Sobre a Dualidade, o Yin e o Yang:
“Vós sois o dilúvio, a arca e o comandante. Vossas paixões são o dilúvio. Vosso corpo é a arca. Vossa fé, o comandante. Vossa vontade tudo penetra, e, acima de tudo isso, está a vossa compreensão.
Assegurai-vos de que a arca é estanque e pode navegar; não gasteis, porém, toda a vossa vida nesse mister, pois não sabeis qual o dia em que ides navegar e, no fim, tanto vós como a vossa arca, apodreceríeis e naufragaríeis no mesmo local. Assegurai-vos de que o capitão é competente e calmo. Mas, acima de tudo, aprendei a procurar as origens dos dilúvios e treinai a vossa vontade para secá-los, um a um. Então, certamente, o dilúvio se enfraquecerá e, finalmente, se acabará.
Queimai a paixão, ou ela vos queimará.
Não peneireis as vossas paixões, separando-as em boas e más, pois é tempo perdido. O bem não pode subsistir sem o mal; o mal não pode ter raízes, senão no bem.
A árvore do Bem e do Mal é uma só, e um só é o seu fruto. Não podeis conhecer o sabor do Bem sem conhecer, ao mesmo tempo, o sabor do Mal.
O úbere do qual sugais o leite da Vida, é o mesmo que produz o leite da Morte. A mão que vos embala no berço, é a mesma que cava a vossa sepultura.
Esta é, meus extraviados, a natureza da Dualidade. Não sejais tão presunçosos e obstinados, a ponto de tentardes mudá-la. Não sejais tão tolos, a ponto de tentar rachá-la em duas metades, para ficardes com a que vos agrada e atirardes fora a outra.
Quereis dominar a Dualidade? Tratai-a como não sendo boa nem má.
O leite da vida e da morte não se tornou já azedo em vossa boca? Não é tempo já de enxaguardes a boca com algo que não seja nem bom nem mau, por ultrapassar ambos? Não é tempo já de almejardes o fruto que não é doce nem amargo, pois não cresce na árvore do Bem e do Mal?
Quereis libertar-vos das muletas da Dualidade? Então arrancai a sua árvore, a árvore do Bem e do Mal, dos vossos corações. Sim, arrancai-a com raízes e galhos, para que a semente da Vida Divina, a semente da Sagrada Compreensão, que está além de todo o bem e todo o mal, possa germinar e brotar em seu lugar.
Não traz alegria a mensagem de Mirdad, direis vós. Rouba-nos a alegria de esperar pelo amanhã. Torna-nos espectadores estúpidos e desinteressados da vida, quando poderíamos ser competidores vociferantes, pois é doce competir, seja qual for o resultado da contenda. E é doce arriscar em uma corrida, mesmo que o prêmio seja uma ninharia.
Assim dizeis vós em vossos corações, esquecendo-vos de que vossos corações não mais vos pertencem, desde que suas rédeas estão nas mãos de boas e más paixões.
Para serdes donos dos vossos corações, amassai todas as vossas paixões, boas e más, na masseira do Amor, para poderdes assá-las no forno da Sagrada Compreensão em que toda a dualidade é unificada em Deus.
Cessai agora de criar dificuldades para um mundo em que já existe excesso de dificuldades.
Como pretendeis tirar água limpa de um poço no qual incessantemente despejais toda a sorte de lixo e de lama?! Como podem as águas de uma lagoa estar claras e serenas, se a todo momento as agitais?
Não tireis a sorte para obter o sossego em um mundo desassossegado, pois podeis obter o Desassossego.
Não tireis a sorte para obter um amor em um mundo odiento, pois podeis obter ódio.
Não tireis a sorte para obter a vida em um mundo agonizante, pois podeis obter a Morte. O mundo não vos pode pagar em outra moeda que não seja a sua – moeda que sempre tem duas faces.
Tirai, porém, a sorte sobre o vosso infinito Eu-divino, que é tão rico em pacífica Compreensão.
Não exijais do mundo, o que não exigirdes de vós próprios. Nem exijais de homem algum, aquilo que não permitirdes que ele exija de vós.
E que é aquilo que, se vos fosse concedido pelo mundo, vos auxiliaria a superar o vosso dilúvio e desembarcar em um mundo isento de dor e de morte, ligado ao céu por Amor eterno e pela paz da Compreensão?
Será poder, bens, fama, autoridade, prestígio e respeito? Será a ambição realizada e a esperança concretizada? Todas estas coisas são fontes que alimentam o vosso dilúvio. Fora com isso tudo, fora, fora meus extraviados!
Permanecei calados para serdes explícitos.
Sede explícitos para que possais compreender, explicitamente, o mundo.
Quando bem compreenderdes o mundo, vereis como ele é pobre e incapaz de vos proporcionar o que procurais: liberdade, paz e vida.
Tudo o que o mundo vos pode dar é um corpo – uma arca na qual navegareis pelo mar da vida dual. E isso não deveis a homem algum neste mundo. É dever do universo vo-la fornecer e sustentá-la. Mantê-la limpa e seca para enfrentar o dilúvio, tão limpa e seca como a arca de Noé; prender nela as feras e as manter sob o vosso controle, tal como Noé prendeu as feras e as manteve sob perfeito controle é o vosso dever, e somente vosso.
Ter uma fé desperta e de olhos vivos para metê-la ao leme, uma fé inabalável na Vontade Total que é o vosso guia para os bem-aventurados portões do Éden, esse é o vosso trabalho, e somente vosso.
Ter uma vontade intemerata para assumir o comando, uma vontade que se supere e participe da Arvore da Vida da Sagrada Compreensão, é também o vosso trabalho, e somente vosso.
O Homem se dirige a Deus. Nenhum destino, a quem desse, vale o seu esforço. Que dizer se a rota for longa, com borrascas e tempestades? A Fé vinda de um coração puro e olhos vivos, não vencerá as borrascas e tempestades?
Apressai-vos. O tempo, desperdiçado em preguiça, está repleto de dores, e os homens, mesmo os mais ocupados, são, na verdade, preguiçosos.
Todos vós sois arquitetos navais. Sois todos marujos. Essa é a tarefa que vos foi assinalada, desde a eternidade, para que possais navegar o oceano sem limites, que sois vós próprios, e, afinal, encontreis a harmonia inexprimível do Ser cujo nome é Deus.
Todas as coisas precisam ter um centro do qual irradiem e à volta do qual girem.
Se a vida do Homem é um circulo e o encontrar a Deus for, portanto, o centro, então todo o vosso trabalho deverá ser concêntrico em relação a esse centro, ou será um devaneio, embora lavado em suor de sangue.
E como a tarefa de Mirdad é levar o Homem a seu destino, vede! – Mirdad preparou para vós uma arca magnífica, uma arca bem construída e bem comandada. Não uma arca de madeira, vedada com betume nem para transportar corvos, lagartos e hienas, mas uma arca de Sagrada Compreensão que, realmente, será um farol para todos os que anseiam pela Libertação. Seu lastro não será de frascos de vinho e prensas de lagar, mas de corações repletos de amor por tudo e por todos. Nem a sua carga será de terras e bens móveis, prata, ouro e jóias, mas de almas divorciadas de suas sombras e vestidas da luz e da liberdade da Compreensão.
Que venham para bordo aqueles que querem partir as amarras que os prendem à Terra, aqueles que desejam ser unificados e aqueles que anseiam por Libertar-se.”
Download grátis – Leia O Caminho da Sabedoria, de Stela Vecchi